O projeto Izidora, presente cria uma ponte entre as ocupações da região da Izidora (fronteira de Belo Horizonte com Santa Luzia) e o Palácio das Artes. Interligando diferentes linguagens (vídeo, fotografia, instalação de objetos e performance), o projeto cria uma “ambiência de ocupação” dentro da galeria Mari’Stella Tristão.
O projeto conta com 16 fotografias, uma projeção de vídeo e um barraco de lona – similar às primeiras moradias das ocupações – construído dentro da galeria. Ao redor das fotografias, pendurados na parede, e em volta do barraco, no chão, foram dispostos alguns objetos dos próprios moradores da ocupação: martelos, facões, serrotes, faixas, cartazes.
O barraco de lona e os objetos posicionados no interior da galeria foram confeccionados a partir da performance Só a violência ajuda onde a violência reina, realizada com os moradores da ocupação Izidora, no dia de abertura da exposição (26 de janeiro de 2016). É a conjugação desses elementos que compõe o trabalho Izidora, presente.Por meio da relação entre o vídeo e as fotos e mais a participação da própria comunidade, que constrói ela mesma o maior objeto exposto (o barraco) e deposita seus objetos pessoais no interior da galeria, como um espólio de luta, a ideia foi criarum ambiente que permitisse ao público experimentar um pouco da vida e da vibração de luta cotidiana das comunidades das ocupações.
As ocupações urbanas são hoje um dos maiores movimentos políticos brasileiros. Se é verdade que na última década uma boa parte da população de classe média pode investir na casa própria, é mais verdade ainda que a política habitacional dos governos (em todas as esferas) nesse período foi pautada pela estreita relação com o setor da construção civil e por uma completa ausência de regulação da especulação imobiliária. Morar se tornou especialmente caro no Brasil. Com isso, a população mais pobre se vê pressionada pelo custo do aluguel e pela impossibilidade em obter os financiamentos para a casa própria. Diante desse quadro, ocupar é resistir. Ocupar é relembrar que a moradia é um direito e não apenas uma conquista de consumo.
O projeto Izidora, presente foi criado coletivamente pelos artistas Warley Desali, Affonso Uchôa e Edinho Vieira (morador da ocupação). Da imersão nas ocupações surgiu a descoberta de histórias e pessoas fascinantes. Lá o dia-a-dia é de luta: pela sobrevivência e por uma realidade onde uma casa não seja mero produto, onde as cercas sejam removidas e onde a terra seja de todos.